sábado, 9 de abril de 2016

Brincadeira do desmaio pode levar ao coma e até matar

Dra. Andrea Hercowitz 
PEDIATRIA - CRM 83275/SP

Entenda todos os riscos da brincadeira do desmaio para a saúde e como identificar adeptos

A brincadeira do desmaio, também conhecida como jogo da asfixia, é uma brincadeira de alto risco, porém bastante frequente entre adolescentes e adultos jovens. Existem relatos de vítimas dessa brincadeira no mundo inteiro, atingindo crianças a partir de 6 anos de idade. Não é uma prática nova, mas com a facilidade de acesso e divulgação de informações da atualidade, a disseminação da ideia é rápida e eficaz. Uma pesquisa rápida em qualquer site de busca nos leva não só a artigos sobre essa prática, mas também a explicações de como fazê-la.
A brincadeira consiste em prender a respiração ao ponto de levar ao desmaio. Pode ser realizada com a ajuda de amigos ou sozinho. Vídeos recentemente divulgados no Brasil mostram garotos apertando o tórax de uma colega até o momento em que ela perde os sentidos e cai, escorada por eles. Também conhecida como "choking game", na França recebe o nome de "o jogo do lenço", devido ao uso de lenços no pescoço para atingir o objetivo de provocar a asfixia.
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Características próprias da adolescência tornam os jovens mais susceptíveis a brincadeiras de risco como essa. Adolescentes são curiosos e tendem a querer descobrir o novo mundo que está aparecendo à sua frente, buscando desafios e novas sensações. Diante das modificações do corpo e do aumento de suas capacidades físicas e mentais acreditam ser infalíveis, demonstrando uma certa prepotência e acreditando que nada de ruim possa acontecer com eles. O modismo e a supervalorização das opiniões do grupo de amigos também têm forte influência em seu dia a dia, sendo comum o pensamento "se todo mundo faz eu também faço" ou "se fui desafiado tenho que mostrar que posso".

Efeitos no corpo

Duas são as técnicas usadas: a compressão do tórax após um período de hiperventilação e o estrangulamento. Com a compressão torácica os pulmões não conseguem expandir e, portanto, não se enchem de ar, ou melhor, de oxigênio, necessário para a sobrevivência de todos os órgãos do corpo humano. Com o estrangulamento as artérias carótidas são comprimidas impedindo o fluxo de sangue para o cérebro, levando, também a falta de oxigênio ao órgão.
A parada da oxigenação temporária no cérebro pode provocar além da perda de consciência, espasmos musculares, formigamento em membros, vertigem, convulsões, coma e morte. O mecanismo é semelhante ao do AVC isquêmico, podendo ou não deixar sequelas, sendo as mais comuns nas áreas da memória, da visão e da fala. Observam-se também sequelas motoras, com a possibilidade de paralisias irreversíveis. Quando a parada cardiorrespiratória acontece as chances de sobrevivência são muito pequenas.
A prática do desmaio visa não só o desafio proposto na brincadeira, mas também o prazer posterior a ele, provocado pela liberação de neurotransmissores após a interrupção do fluxo de oxigênio cerebral. A sensação é semelhante àquela sentida com o uso de drogas ilícitas e pode tornar-se uma prática habitual pela busca de sensações agradáveis, mesmo que fugazes.
Além dos riscos da hipóxia (falta de oxigênio) descritos acima, a incidência de ferimentos consequentes a perda de consciência também é elevada. Escoriações, traumatismos cranianos, fraturas de membros, nariz e de dentes são frequentes.
Comumente o primeiro contato com o choking game é com um grupo de amigos, mas a busca pela repetição da sensação de prazer faz com que muitos jovens passem a provocar o estrangulamento sozinhos, o que aumento o risco de consequências dramáticas, uma vez que não tem ninguém para ajuda-los caso ocorram perdas de consciência muito duradouras. Três segundos são suficientes para matar inúmeras células neuronais, 5 segundos são o suficiente para levar à morte.

Como identificar adeptos

Não existe um padrão de comportamento típico dos adeptos da prática da asfixia. Muitas das vítimas eram jovens tranquilos, bons alunos, com bons relacionamentos sociais e planos para o futuro. Alguns já vinham praticando a asfixia há algum tempo, outros era a primeira vez. A incidência é bem maior entre adolescentes do sexo masculino, cerca de 82%. O CDC (Center for Disease Control) sugere a observação de alguns sinais:
  • Olhos vermelhos
  • Pequenos pontos hemorrágicos em face e pálpebras
  • Dores de cabeça fortes e frequentes
  • Marcas no pescoço sem explicação
  • Escoriações pelo corpo
  • Desorientação após ficar sozinho
  • Possui objetos tais como cordas, lenços e coleiras, muitas vezes amarrados em móveis do quarto
  • Conversam e fazem pesquisas sobre o assunto
  • Usam gola alta mesmo em dias quentes.

Prevenção

Centenas de mortes acontecem a cada ano no mundo em consequência do "jogo do desmaio", mas é difícil de saber o número exato porque muitas delas são registradas como suicídio.
A melhor maneira de se evitar mais tragédias resultantes desse arriscado jogo é com a prevenção e conscientização. Todos os que lidam com crianças e adolescentes devem estar atentos aos sinais de alerta. Cabe às escolas, aos pais e aos profissionais da saúde mostrarem aos jovens os malefícios dessa prática, explicando suas possíveis consequências e mostrando exemplos de casos reais, na intenção de convencê-los de que o risco é muito alto.
Muitos são os sites de ONGs e fundações que tratam do assunto, vários deles criados por pais de vítimas. Listo aqui alguns deles:
  • Erik's Cause - www.erikscause.org
  • APEAS - www.jeudufoulard.com
  • WildFarmKids - www.wildfarmkids.com
  • Dimicuida - http://www.institutodimicuida.org.br
  • GASP - http://www.gaspinfo.com.

http://www.minhavida.com.br/familia/materias/20693-brincadeira-do-desmaio-pode-levar-ao-coma-e-ate-matar

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