Lidar consigo é uma arte que requer paciência, sensibilidade e, principalmente, uma pedagogia que somente Deus pode nos dar
“Lidar consigo é trabalho de artesão, fio a fio, e leva tempo pra dominar o coração”
Essas palavras são de Suely Façanha, na música “De coração a coração”. Eu as tomo emprestadas para falar da bela e desafiante arte de lidar com nós mesmos. Talvez, você, como eu, até já tenha encontrado soluções fáceis para problemas considerados difíceis na vida de outras pessoas. Mas quando a vida exige de nós uma autocompreensão, somos colocados frente a um grande desafio. É um trabalho realmente comparado ao do artesão, não acontece do dia para a noite nem da maneira que, talvez, esperávamos. É mesmo uma obra de arte, feita fio a fio, ponto a ponto, e leva um longo tempo para contemplá-la por inteiro; se é que a contemplaremos.
Com frequência, ouvimos falar que os problemas de ordem física e espiritual, que assolam a humanidade, estão estreitamente ligados às dores da alma, ou seja, sofrimentos e traumas interiores que não foram partilhados, resolvidos ou curados, dos quais se destacam a depressão e as síndromes do medo e do pânico.
O que fazer diante disso?
Vem, então, a pergunta: o que fazer diante disso? Esse é nosso principal desafio: mostrar alternativas para nós mesmos e para os que nos procuram em busca de ajuda. Volto à música que citei no início do texto:
“Renúncia, dor e alegria, surpresa, perdão, euforia
Só podem partir de um lugar, vêm do coração.
Capaz de sorrir, capaz de odiar, destruir e recomeçar,
O coração foi feito somente pra amar. Capaz de acolher, capaz de chorar. Se perder e reconciliar. O coração foi feito somente pra amar…”
Tudo parte do coração, que foi feito somente para amar. É exatamente por essa razão que ele precisa estar centrado em Deus, fonte absoluta de todo amor e, portanto, de todo bem.
Acontece que, em meio a tantas ofertas e ruídos, não é tão fácil centrar o coração em Deus. Naturalmente, a vida vai exigindo de nós respostas, posturas e decisões que revelam o que somos e fazemos neste mundo. Essas exigências naturais, somadas às nossas fraquezas, medos, carências, ansiedades, sentimentos de rejeição, de autossuficiência e frustrações fazem uma combinação na qual fica em evidência nossa insegurança. Por isso, com frequência, falta-nos arte para lidar com nós mesmos, e corremos o risco de nos perder procurando nos encontrar.
É preciso pedir ao Senhor sabedoria para superar o desafio de lidar com nós mesmos, sem nos prejudicar nem ferir os que estão ao nosso lado, já que a tendência é transferirmos nossas culpas para os outros e até fugirmos do espelho que aponta nossa verdade.
Lidar consigo mesmo requer paciência
É também necessário ter calma, pois, quando não conseguimos administrar as exigências que sofremos, nosso físico se manifesta por meio de enfermidades e desequilíbrios; não raras vezes, desviando-nos da meta que Deus traçou para nós. A exemplo do artesão, precisamos ser pacientes. Por essa razão, concordo com a afirmativa: Lidar consigo mesmo é uma arte, que requer paciência, sensibilidade e, principalmente, uma pedagogia que somente Deus pode nos dar.
É essencial ter a consciência de que, quanto mais mergulharmos em Deus, tanto mais contemplaremos nós mesmos, e seremos por Ele restaurados. Recorramos, portanto, ao auxílio da graça divina para lidar com esse mistério. Considerando nossa história e valorizando nossas raízes, podemos compreender melhor nossas fragilidades e assumir nossa identidade. Acredito que essa seja a condição fundamental para alcançarmos a cura interior e a maturidade emocional. Quem não assume o que é vive fugindo, portanto, não é feliz nem se encontra com ele mesmo. Nossa verdade é sempre o ponto de partida para a construção da obra nova, que Deus quer realizar em nós a cada dia.
Que tenhamos a coragem de pensar sobre quem realmente somos, do que temos fugido e onde está a raiz dos sentimentos que habitam nosso ser. Diante dessas descobertas, mergulhemos em Deus que, de coração aberto, sempre nos espera.
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